Shein e Shopee: o crescimento dos e-commerces no Brasil

Se você é uma pessoa antenada a internet ou convive com pessoas que são, provavelmente já ouviu falar da Shein ou da Shopee. Mas, caso (ainda) não conheça, ambas as lojas são classificadas como e-commerce, ou seja, vendem seus produtos ou serviços apenas online, e estão se destacando no Brasil. 

Com a pandemia do coronavírus, as pessoas se viram isoladas em casa e não tendo opção de consumo a não ser pela internet. Durante esse período, a Shein, atualmente considerada um dos maiores e-commerces da China, e a Shopee, um e-commerce criado em Singapura que vem se sobressaindo no mercado brasileiro por ser responsável por conectar vendedores locais e internacionais com clientes, cresceram entre os consumidores.

Para Durval Meireles, doutor em Economia, a Covid-19 influenciou nesse consumo e no desenvolvimento das lojas para o digital. “A pandemia acelerou o processo de transformação do analógico para o digital. Aquelas pessoas que ainda tinham algum receio de comprar online, perderam porque praticamente a economia fechou a não ser os bens essenciais. Isso levou à explosão do comércio eletrônico e da transformação digital”.

Mas por que a Shein e a Shopee ficaram tão famosas?

As redes sociais foram uma das principais ferramentas que possibilitaram esse “boom” da Shein. No TikTok e no Instagram, as pessoas sempre gravavam vídeos mostrando o que haviam comprado na loja chinesa e o que haviam recebido. Geralmente, o usuário estava muito satisfeito com a compra, principalmente pelo preço oferecido, o que acabava influenciando outras pessoas a comprarem também.  

Duas das razões que explicam essa preferência dos consumidores pela Shein é o preço baixo e a possibilidade de utilizar pontos e cupons de desconto – o que torna o valor final menor ainda.  Na loja chinesa, é possível comprar, por exemplo, conjuntos de academia por menos de 100 reais (sem contar com os descontos), enquanto nas lojas nacionais, a média de preço de apenas uma legging pode ultrapassar esse valor. 

Já no caso da Shopee, a expansão no mercado brasileiro começou quando a empresa passou a incluir vendedores brasileiros no marketplace, em 2019. A iniciativa, que faz parte de uma das estratégias adotadas pela empresa para adaptar a plataforma de acordo com cada região em que atua, incentiva o comércio local.

Além de ajudar os consumidores oferecendo preços baixos, frete grátis e cupons, a Shopee também dá benefícios aos vendedores locais, como isenção de taxa sobre pedidos cancelados, ausência de taxa para anunciar produtos e auxílio com campanhas para captar novos clientes. 

Uma pesquisa realizada para desenvolver essa reportagem (disponível ao final da matéria), mostrou que ambos e-commerces conquistaram o público por conta de três motivos principais: preços baixos, quantidade de produtos oferecidos na mesma plataforma e praticidade de compra.

Na mesma pesquisa, foi possível observar que a maioria dos entrevistados (62.5%) afirmou perceber muita diferença no preço oferecido por esses e-commerces, em relação às lojas de varejo comuns. Enquanto isso, 22.9% disse não perceber muita diferença e 4.5% relatou que os valores são similares. 

O sucesso entre os clientes

Um relatório publicado pela Exame e realizado pelo BGT Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) mostrou o quanto a Shein cresceu no Brasil. Divulgado em janeiro de 2023, os dados apontaram que a loja chinesa foi responsável por faturar R$ 8 bilhões no país, tendo um salto de 300% em relação a 2021. 

Malu Danezi, de 19 anos , foi uma das responsáveis por contribuir com esse faturamento elevado. Consumidora da Shein desde 2021, a estudante de Jornalismo já gastou mais ou menos mil reais em compras no aplicativo.

“Eu devo ter feito umas seis ou sete compras ao todo. Na primeira, lembro que gastei uns R$ 180 e pouco, na segunda uns R$ 200, e a partir daí, gastei entre R$ 200 e R$ 300 nas outras. Mas, nunca cheguei em R$ 400”.

Apesar dos valores, ela afirma só conseguir comprar de duas a três vezes ao ano, quando consegue juntar dinheiro. 

Malu participou de um ensaio fotográfico usando várias roupas da Shein. Na foto, um dos looks comprados e usados por ela.

Como consequência do gosto pela loja chinesa, as nacionais só passam a ser uma opção quando Malu não pode esperar pelo prazo da Shein (que costuma demorar entre 7 a 15 dias). “Agora eu só compro em lojas nacionais quando preciso de alguma peça imediatamente, até porque essas lojas têm estado muito caras e com opções de roupa que não me agradam tanto. Quando eu acho alguma peça que eu gosto, é sempre mais de R$ 100, e na Shein eu não encontro esse problema, já que posso utilizar pontos e cupons de desconto para abaixar o preço”. 

Diferente de Malu, Andreia Santos, de 27 anos, gosta muito de comprar em lojas nacionais, como a C&A. Mas, mesmo sendo cliente da loja, ela prefere comprar online pela praticidade e pelo preço.

“Eu compro sempre pela internet até por ter coisas mais baratas. Às vezes eu venho na loja para ver a peça e depois eu pego online. Gosto da facilidade e praticidade de ligar o computador, passar o cartão e não precisar vir na rua. Mas, de vez em quando, eu compro aqui (na C&A) porque é perto”.

Mesmo com a proximidade, Andreia ainda prefere fazer compras pelo site. “Normalmente eu compro online, no site da própria loja, porque é mais em conta”, completa.  

O preço online chama atenção dos clientes em qualquer loja. Vinícius Leoni, de 21 anos, é consumidor fiel da Shopee, principalmente pelo valor oferecido. Estudante de Ciência da Computação e trabalhando com marketplace, nos últimos tempos, ele tem comprado uma vez ao mês no e-commerce –  seu histórico do app marca que já foram gastos R$ 950 reais no total das 10 compras feitas, ou seja, gastou em média R$ 94,95 por pedido. 

“Minhas compras normalmente são personalizadas em geral. Geralmente compro produtos que envolvam alguma customização, como uma camisa com nome, um copo personalizado, uma meia com meu rosto e produtos para manutenção de legos”. 

Como gosta de consumir produtos personalizados e começou a ganhar seu próprio dinheiro a pouco tempo, Vinícius nunca teve o costume de comprar esse tipo de produto em outras lojas. Ele acredita que os preços oferecidos pela Shopee são muito bons e para conseguir personalizar os itens de sua preferência, teria que ir atrás de pessoas que fizessem sob encomenda, o que sairia mais caro e seria trabalhoso. 

Um dos itens que Vinícius comprou na Shopee foi essa meia personalizada. O item foi presente para sua namorada.

A popularidade da Shopee pode ser vista em números. Segundo o levantamento “State of Mobile 2022” produzido pela Snaq, em parceria com a Simillarweb, o aplicativo foi considerado o mais popular no setor de compras do Brasil, sendo baixado 9 milhões de vezes apenas no segundo trimestre de 2022. A título de comparação, o segundo colocado foi o Mercado Livre com 4.2 milhões de downloads, seguido pela Magazine Luiza, com 3.7 milhões. 

O levantamento de dados realizado para essa reportagem corrobora com as informações apresentadas. Das 201 pessoas entrevistadas, 159 afirmaram já terem comprado em uma ou nas duas lojas que são o estudo desse caso. 

A concorrência com as lojas nacionais

O crescimento da Shein e da Shopee no país fez com que as compras nas lojas nacionais diminuíssem. Os consumidores começaram a optar por comprar roupas, acessórios e outros produtos nesses e-commerces, em vez de lojas como Renner, C&A, Americanas e Amazon, como acontecia anteriormente. 

Para o doutor em Economia, Durval Meireles, a concorrência das lojas nacionais com os e-commerces é muito desigual.

“É difícil concorrer com essas lojas virtuais, especialmente chinesas, Shein e outras porque essas lojas vendem com preço muito barato um custo muito pequeno e como nós temos uma isenção de até 50 dólares, mais ou menos 250 reais, o custo dos impostos e das taxas é muito elevado no Brasil”.

Ainda sim, a C&A tenta se adequar à concorrência. É o que diz Maria Tomaz, líder visual de merchandising da C&A. “Para tentar ficar no padrão da Shein a gente só consegue nos preços dos produtos, porque qualidade em si sempre somos a preferência, nós e qualquer outra loja de departamento brasileiro, por conta da qualidade”.

Segundo Maria, a alternativa que a C&A encontra para se equiparar com as outras lojas onlines é abaixar o preço dos produtos e oferecer cupons. Além disso, a líder visual de merchandising da loja conta que alguns clientes ainda preferem as lojas brasileiras pela qualidade da roupa e a possibilidade de ver e provar o produto.

O estudante Luiz Guilherme Couto, de 23 anos, é um desses consumidores. Para ele, é importante ver, tocar, experimentar e avaliar os produtos antes de realizar a compra. 

“Prefiro comprar em lojas físicas, ainda que mais caras, mas considero sempre importante fazer uma seleção de produtos mais adequados às minhas necessidades, em questão de poder analisar o tamanho de uma vestimenta correta e gosto pelo produto”.

Luiz Guilherme evita fazer compras em comércios online

Por já ter passado por situações desagradáveis no online, o posicionamento do estudante é reforçado.

“Existe também em mim um motivo de desconfiança em relação a compras online, por já ter tido uma experiência negativa do estado de um produto comprado. Essa questão não apenas se reflete sobre a preocupação com a qualidade dos produtos, política de troca e estimativas do produto, mas por já ter ouvido comentários negativos a respeito do recebimento de um produto nessas lojas virtuais”, conta.

Mesmo desacreditando nesses e-commerces, Luiz ainda pretende comprar na Shopee. O fato do marketplace oferecer uma grande quantidade de produtos em um só lugar e a facilidade que isso traz, são pontos a serem considerados pelo estudante. Além desses, ele entende que da mesma forma que o produto pode ter comentários negativos, há pessoas que avaliam o mesmo produto positivamente. Ou seja, a percepção de cada consumidor é muito relativa. 

Mas, não se pode negar que com o crescimento acelerado da Shein e da Shopee, as nacionais ficam para trás. Apesar das lojas já estarem investindo no online e se aprimorando para entregar os produtos num prazo mais curto e pagar menos impostos, o caminho ainda é um pouco longo. 

Para o doutor em Economia, Durval Meireles, a alternativa para o Brasil tentar, ao menos, concorrer com essas empresas, envolve investimento. “O Brasil tem que investir, seja com investimento público ou privado, estrangeiro, numa infraestrutura de transporte e logística efetiva diminuindo o custo investindo em tecnologia pra gente e aí tentar em 20, 30 anos recuperar esse tempo perdido. Além disso, muita educação de qualidade!”, afirma.  

De acordo com os entrevistados para montar o banco de dados dessa reportagem, caso as lojas brasileiras oferecessem preços mais baixos, melhor qualidade nos produtos, variadas opções ou cores do mesmo produto, ou um melhor serviço de atendimento e entrega, elas poderiam (re)conquistar os consumidores.  

Ainda não se sabe onde lojas como a Shein e a Shopee vão chegar, mas no ritmo que estão, é garantido que ainda lucrarão muito no território brasileiro. 

Metodologia

A intenção de produzir esta matéria sobre o crescimento dos e-commerces no Brasil, com foco na Shein e na Shopee, é mostrar se afeta e como afeta o comércio brasileiro. Além disso, entender o comportamento das pessoas em relação ao consumo nessas lojas e as de varejo comuns.

Dessa maneira, para confirmar essas informações, foi preciso montar uma base de dados em relação ao tema. Para isso, pesquisamos referências sobre o assunto desde a pandemia da Covid-19 para cá. 

Nesta fase de pesquisas, encontramos um relatório realizado pelo BGT Pactual, no qual mostrava o crescimento da Shein no Brasil, e um levantamento produzido pela Snaq, em parceria com a Simillarweb, ilustrando a popularidade da Shopee, através da enorme quantidade de vezes que o aplicativo havia sido baixado apenas no segundo trimestre de 2022. 

Apurando as informações que conseguimos com base nas pesquisas, iniciamos as buscas pelos dados, fizemos um formulário do Google, para sabermos a opinião das pessoas sobre o assunto, e principalmente entender o consumo delas em ambos os e-commerces. 

Divulgamos o formulário em nossas redes sociais, compartilhamos com amigos em grupos no Whatsapp e pedimos para que eles enviassem para outras pessoas, e com isso, conseguimos 201 respostas em uma semana. 

Analisando as respostas, que contaram com um público variado em relação à idade, estado atual no mercado de trabalho e gênero, percebemos que os maiores consumidores da Shein e Shopee eram os jovens entre 16 e 24 anos. Ainda observando os dados, vimos que o maior índice de respostas foram daqueles que se identificavam com o gênero feminino (67,2%). Além dessa, outra informação se destacou por mostrar que os estudantes, sendo não necessariamente os que estagiam ou trabalham, são os que mais consomem em ambas as lojas (73).

Com a base de dados completa, fizemos uma planilha para aí sim conseguimos formatar os gráficos da matéria, feitos no site Flourish. Pensando sempre em tornar a visualização e compreensão dos dados conseguidos e das informações integradas na planilha.

Por Isabela Mello e Marina Malheiro

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