Existe o tipo certo de parto?

No Brasil, em 2017, as taxas de cesárea chegaram a 55%, muito além do nível recomendado pela OMS.

A maternidade sempre foi um assunto cercado por muitos mitos, o que causa questionamentos e até angústia nas mulheres: como deve ser a alimentação, quando os enjoos vão passar ou como será o processo de amamentação quando o bebê nascer. Porém, uma das maiores dúvidas e que ainda segue sendo um tabu é qual o melhor tipo de parto: normal ou cesárea.

Nos últimos anos, a taxa de cesáreas tem aumentado cada vez mais em vários países. Apesar disso, a OMS (Organização Mundial da Saúde), recomenda que a taxa ideal de cesáreas por ano em um país seja entre dez a quinze por cento de todos os partos, já que por ser uma cirurgia, quando feita sem necessidade, pode trazer consequências para a mãe e para o bebê.

De acordo com um levantamento feito pelo Fiquem Sabendo no Portal DataSUS, no ano de 2017 o Brasil realizou mais de cinco milhões de partos e 55% deles foram cesáreas, mais do que o dobro do recomendado pela OMS. Alguns municípios como Sebastianópolis do Sul, em São Paulo e Albertina, em Minas Gerais, não chegaram a fazer nenhum parto normal.

Reprodução: Infogram/Canvas

Mas a cesárea já tinha seu espaço nos hospitais bem antes disso. Em 1998, aos 33 anos, Jane Ferreira, técnica em enfermagem e atualmente dona de casa, ficou grávida, e o médico recomendou que fizesse a cirurgia, porque estava perdendo líquido amniótico. Ocorreu tudo bem durante o procedimento, mas no pós-operatório, teve reação a anestesia. “Quando a minha filha nasceu, ela não chorou e então a levaram para fazê-la chorar, foi direto para incubadora e não pude vê-la. Logo depois, tive a reação à anestesia. Foi um momento horrível.”

Jane conta ainda que, se tivesse outro filho e pudesse optar pelo tipo de parto, não faria à cesárea, pois acredita que a recuperação do parto normal seja melhor e bem mais rápida se comparada com a cirurgia. “Além de ter o momento mais pessoal do que a cesárea, cresci com a minha mãe contando os três partos normais que ela teve e por isso nunca tive medo.”

Foto/Reprodução: Jane na maternidade com sua filha Juliana.

Já em 2017, a administradora Thays Rios Neves, deu a luz ao seu filho, Gael. Ela comenta que não tinha nenhum plano de parto definido, desde que fosse o melhor para ela e o bebê. Ocorreu tudo bem até quase o final da gestação, quando começou a ter aumento de pressão e inchaço e a obstetra avaliou que seria melhor fazer a cesárea.

A cirurgia foi um sucesso e Thays não teve nenhum problema com os pontos ou dor durante a recuperação. Ela também conta que, se fosse ter outro filho hoje, continuaria com o mesmo pensamento, de escolher o melhor para os dois. “Eu acho que pro parto do Gael, foi o que tinha que ser. Realmente a minha pressão, que normalmente é bem baixa, ficou alta, por conta de retenção de líquido e de inchaço”.

Foto/Reprodução: Nascimento do Gael, através da cesárea.

A enfermeira Marilane Alves explica que o parto normal costuma ser a forma mais saudável para se ter um filho — isso, é claro, se a mãe realmente puder escolher e não houver  nenhuma situação que a impeça. “Tem a anestesia, o corte, a possibilidade de infecção e a de complicação pós-parto. Então a cirurgia, no caso da cesariana, é sempre, ou quase sempre, mais arriscada.”

Outra forma de parto que tem chamado atenção atualmente é o humanizado. Marilane, porém, atenta para a má interpretação de algumas pessoas que associam os partos normais a humanizados: nem sempre é assim. Também é possível fazer uma cesariana de forma humanizada, desde que os profissionais respeitem as necessidades fisiológicas e também emocionais da mãe e do bebê.

A psicóloga clínica Gabriela Serpa, que atuou como psicóloga residente na Maternidade-Escola da UFRJ, destaca que é importante manter um acompanhamento psicológico antes, durante a gestação e no período pós-parto. “É necessário entender que a perinatalidade pode convocar diferentes sentimentos e transformações no sujeito, e enquanto profissional trabalhar com esses avessos da maternidade e da parentalidade, com a queda das idealizações.”

Gabriela ressalta ainda que, a idealização que muitas pessoas criam sobre o parto normal, pode afetar diretamente a gestante, mesmo que para ela seja indicado a cesárea, e acredita que a melhor forma de se fazer um parto, seja a humanizada, independente de ser normal ou cesariana. “O momento do parto é o momento do primeiro contato com um ser desconhecido e ao mesmo tempo familiar, é o encontro com o bebê, no seu tempo e no seu ritmo. Humanizar é poder compreender que existem diferenças culturais e individuais para cada mulher.”

Base de dados:

https://docs.google.com/spreadsheets/d/1rWWdmWk1hZjedadfWu-Ftl4rVWrRnjrcxnO2CcJChhc/edit#gid=0

METODOLOGIA

Para o desenvolvimento do trabalho, utilizei a base de dados disponibilizada pelo Fiquem Sabendo, com os municípios do Brasil e o índice de partos cesárea e normal de cada lugar. Dentro dessa base, peguei o número total de cesáreas do Rio de Janeiro, dividi pelo valor do Brasil e multipliquei por cem para chegar na porcentagem, que resultou em 1,4% como descrito no infográfico. Também me baseei na Declaração da OMS sobre taxas e cesáreas para compor a matéria.

Escolhi as personagens pensando na diferença de tempo entre os nascimentos, para mostrar as realidades de cada uma. Para as especialistas, além do ponto de vista da enfermeira, achei importante abordar a parte psicológica da maternidade.

Isabela da Silva Campos, Jornalismo, sétimo período.

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